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Projeto Oásis já recuperou 613 nascentes em Apucarana
30/01/2012
Apucarana iniciou na última sexta-feira (27) a terceira fase do Projeto Oásis, com o repasse do primeiro pagamento para 56 produtores que aderiram ao programa no final de 2011. A iniciativa, que remunera serviços ambientais prestados na preservação de matas ciliares e reserva legal, já soma 184 propriedades cadastradas e recuperou 613 nascentes nas bacias do Pirapó, Tibagi e Ivaí. Os resultados renderam a assinatura de um convênio de R$ 500 mil com a Agência Nacional das Águas (ANA) e o reconhecimento da Fundação Banco do Brasil, que classificou o Oásis como um dos 50 melhores projetos ambientais do Brasil no Prêmio Tecnologia Social.
O gerente de Usos Sustentáveis da Água e do Solo da ANA, Devanir Garcia dos Santos, elogia a iniciativa, que segue os mesmos moldes do programa nacional Produtor de Água. “Os produtores rurais estão demonstrando que fazem parte do único setor capaz de salvar o planeta. A sociedade urbana precisa reconhecer este serviço e lembrar, ao abrir as torneiras das suas casas, que para ter água depende de produtores rurais que abriram mão da renda para preservar matas e nascentes”, destaca. O repasse do convênio deverá ser utilizado na conservação de solos e revitalização de áreas na bacia do Rio Pirapó, manancial de abastecimento da cidade.
O secretário de Meio Ambiente e Turismo de Apucarana, João Batista Beltrame, faz questão de ressaltar que o repasse mensal aos produtores cadastrados é, na verdade, um prêmio pelos serviços prestados ao meio ambiente. “São trabalhadores e não vilões, como outrora eram chamados. Eles sabem trabalhar com a terra e só precisam de oportunidade e de reconhecimento pelo trabalho de preservação da água”, afirma. “Apucarana é uma das poucas cidades brasileiras que pertence a três bacias. Estamos na cabeceira do Pirapó, que abastece Apucarana e Maringá, do Tibagi, que abastece Londrina, e do Ivaí, maior rio do Paraná”. O custo mensal para o projeto, a partir deste mês, será de cerca de R$ 32 mil, sendo que a menor remuneração paga é de R$93,80, e a maior de R$578,20.
O gerente regional da Sanepar em Apucarana, Nelson Mardegan, lembra da parceria da empresa desde o início do Projeto Oásis e também dos ganhos com a qualidade e quantidade da água além das fronteiras do município. “Sabemos que no início nossa participação foi crucial. Este é um projeto importantíssimo para o meio ambiente e também traz resultados para o saneamento e para a saúde da população”.
O presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente, Edson Denobi revela que, entre 2010 e 2011, já foram repassados pelo fundo municipal R$ 413.070,16 para serem investidos no Projeto Oásis. “Este é o maior projeto de produção de água do Brasil em número de participantes. Sabemos que tudo depende da água e temos feito um bom trabalho na preservação dos mananciais de Apucarana”, afirma. Segundo ele, a principal fonte de recursos do Fundo Municipal de Meio Ambiente é o repasse de 1% da arrecadação da Sanepar no município.
Encabeçado pela Prefeitura de Apucarana, além da Sanepar o projeto conta com a parceria da Fundação Boticário de Proteção à Natureza, Sindicato Rural Patronal de Apucarana, Conselho Municipal de Meio Ambiente de Apucarana e outros parceiros como Emater, Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, IAP, Agência Nacional de Águas (ANA) e GAIA.
Outra conquista – A melhoria da qualidade da água dos mananciais de Apucarana refletiu no aumento da verba do ICMS Ecológico em 67%. A partir de 2012, o repasse do Governo do Paraná poderá chegar a quase R$ 2 milhões anuais.
De acordo com Beltrame, a mudança de patamar de repasse é fruto principalmente dos resultados ambientais obtidos pelo projeto e monitorados em uma visita técnica realizada em 2010 por profissionais do Instituto das Águas do Paraná. Após conhecer os projetos ambientais da cidade, os técnicos fizeram um estudo que culminou com o aumento do repasse, que passa a valer para este ano fiscal. “Essa é uma prova de que vale a pena pensar no futuro e investir no meio ambiente como forma de melhorar a qualidade de vida da população”, ressalta o secretário.
Exemplos – Mauro Luciano e a filha Isabelle receberam, na sexta-feira, a primeira remuneração do Oásis. Ele é proprietário da Chácara Três Irmãos, na bacia do Pirapó, e tem uma granja de frangos. Luciano conta que a área de 3,5 hectares tem uma mina muito bem cuidada. “Faz três anos que cerquei o entorno para não deixar as vacas comerem a vegetação. Planteis algumas centenas de árvores e já vejo a diferença. Programei para plantar 100 novas mudas nativas”, comenta.
Moacyr Pedersoli, 72 anos, foi um dos primeiros a se cadastrar no Projeto Oásis, em 2009. Ele conta que herdou do pai. Antônio Pedersoli (falecido em 1979), a vontade de cuidar e viver da terra. A propriedade dele, somada com a parte dos outros oito irmãos, tem 15 hectares e fica na Gleba Pirapó, onde produz, soja, milho e café. “Eu vejo a irresponsabilidade de alguns; vejo erosão acabando com a terra e minas abandonadas pelos proprietários, sendo aterradas. Nós sempre cuidamos da mata e a nossa mina já serviu os vizinhos”, comentou.
Valdevino Bertoli é proprietário do Sítio São Bento, na comunidade Rio do Cerne, e aderiu ao Oásis em 2010. A propriedade, que pertence a bacia do Rio Tibagi, tem 64 hectares, sendo sete deles de reserva legal. “Legalizei tudo, averbei a reserva permanente ao redor da minha mina, fiz cerca para proteger a mata ciliar e plantei 500 mudas nativas. Os benefícios a gente vê claramente. Antes, quando fazia uma estiagem de uns 60 dias, era complicado. Agora pode fazer sol que sobra água na caixa. Os bichos também voltaram, como quatis e tucanos, e muitos outros que não via há tempos agora estão sempre em minha propriedade. Quero que todos os agricultores em Apucarana acreditem e também façam parte deste projeto que é muito importante. A água é tudo, a gente já levanta usando”, relatou Bertoli.
O gerente da Sanepar Nelson Mardegan lembra a importância da parceria e os ganhos em qualidade e quantidade de água para toda a região
Mauro Luciano e a filha Isabelle, Bacia do Pirapó
Moacyr Pedersoli, Bacia do Pirapó